quarta-feira, janeiro 23, 2008

Aviso aos navegantes

As mesmas cabeças, a mesma sagacidade e uma casa diferente:

http://barbituricocomfanta.blogspot.com/

sábado, abril 21, 2007

Epílogo...



Estamos perto do fim? Teremos um recomeço? Ou nunca houve um início?

sexta-feira, abril 13, 2007

Momentos em um ônibus pt. 2 (ou deus dá, deus tira)

Algumas vezes as coisas parecem dar certo. Não é essa a impressão que devíamos ter das coisas. Coisas estão sempre dando errado. É um fardo das coisas. Quando as coisas dão certo é porque parecem dar certo. Daí surge uma frase como essa aí em cima: “Deus dá e deus tira”. Essa frase, assim como o fato de as coisas darem certo, é só uma ilusão. Coisas não dão certo. Deus não dá coisas. Na verdade deus tira mais do que dá.

Outro dia “deus” resolveu me “dar”, na porta da faculdade, dois ônibus passando com destinos que eu devia tomar. “Dois! Obrigado, senhor! Que bondoso da sua parte! Que sensac... Opa!" Lá se vai o primeiro. Passando no sinal antes que eu pudesse atravessar a avenida e alcança-lo. As coisas, que pareciam estar dando certo, começavam a dar errado. Até que o farol fica vermelho e o segundo ônibus para. “Eu sabia! Poder divino! Aleluia irmão!”

Faço o cumprimento secreto e o motorista, acenando a cabeça, aprova o código e abre a porta. Vejo o cobrador. Ele olha para mim. Estou sacando algo da mão esquerda, frio, calculista. Ele gela em sua cadeirinha de couro com almofada para hemorróidas, apreensivo. Com um movimento veloz e eficaz pressiono meu cartão contra o leitor magnético. O motorista reduz a velocidade. Pingos caem da testa do cobrador. A máquina decide aceitar meu cartão. O alívio é geral.

Vou sentar no assento mais alto, onde minha posição hierárquica se sobrepõe. Tudo caminha em perfeita ordem. Tudo “parece estar dando certo” até um congestionamento abrupto se interpor em nosso caminho. Não adiantaria apelar para a divindade. Na verdade era culpa de deus que o trânsito estava daquele jeito. Mil malditos tentavam parar seus malditos carros perto daquela igreja maldita que é a Renascer que fica na Lins. Quando têm culto na Lins a avenida vira um inferno. Então, veja bem: deus não dá, mas tira. Quando não é ele que tira, alguém em nome dele tá tirando, e como nada dá certo, quando ele não tira ninguém sai muito no lucro, tirando quem tira em nome dele...

Momentos em um ônibus pt.1 (ou Sons e sendas)

Descrever os sons que podemos ouvir em um percurso é algo imaginativo. Mas digamos que eu faça isso em um trajeto de ônibus, por exemplo, que me leve de onde estou até a faculdade. Consigo calcular este exercício da seguinte forma: Existem sons onipresentes, como o vento. Aonde quer que você vá é possível escutar o vento. Aquele assobio leve, que muda de freqüência de acordo com o trânsito. Posso deduzir, de olhos fechados, que a Avenida Paulista está congestionada pelo simples fato de o vento não atacar as janelas do ônibus. Existem também os sons irrevogáveis. Estes são monótonos. Ouvimos todos os dias. O roncar de um motor velho. O uníssono apito agudo de todas as catracas de ônibus confirmando débitos de R$2,30 de cada pessoa por passar. “Motorista, posso vender ali pro pessoal? Pega um pra você aí. Boa tarde, passageiros, desculpa incomodar sua viagem...” Toques de celular, buzinas, sirenes de ambulância, pessoas correndo para compensar o atraso. Ah, São Paulo. A impressão que se deve ter de São Paulo é, se não outra, a de que está ocorrendo um bombardeio e todos estão correndo pela própria vida, loucos, frenéticos.

Por outro lado, existem os sons infreqüentes. São de uma casualidade marcante. Nos pegam desprevenidos, mas por se desprenderem do cotidiano conseguimos lembrar deles. O som da chuva caindo forte, se chocando contra a carroceria metálica dos carros. A força do trovão. Raras exceções, quando não há trânsito em São Paulo não há muita necessidade de buzinar. A não-buzina é um som para guardar na memória.

Pra dizer a verdade, quando não aparecem esses sons casuais eu fico ouvindo música no fone de ouvido. Outro dia entrou um trovador contemporâneo no ônibus. Começou a tocar Raul Seixas: “Tente me ensinar das tuas coisas. Que a vida é séria, e a guerra é dura. Mas se não puder, cale essa boca, Pedro, e deixa eu viver minha loucura”.
Parei pra ouvir.

sábado, abril 07, 2007

Perguntas e Respostas

P: Quando haverá um novo texto aqui?

R: Quando a vida estiver menos monótona e alguma coisa que realmente valha a pena relatar vier a acontecer.

P: Alguma previsão?

R: Não. 2007 tem sido um companheiro insolente.

P: Mas e se as pessoas estiverem à beira do precipício esperando algo no E.E. acontecer?

R: Pula!

sábado, dezembro 30, 2006

Uma dose de Smirnoff

Experiências etílicas à parte, a dose de Smirnoff hoje não é de vodka.

A marca moscovita nascia em meados de 1860 aos caprichos de Piotr (um nome russo comum) Arsenieyevich (um nome russo difícil de escrever) Smirnov (um sobrenome russo de um cara chamado Piotr que resolveu fabricar vodka Smirnoff), e muito tempo depois, na cidade-irmã Odessa, na Ucrânia, nascia (não, não é Schvchenko, o único ucraniano que você deve conhecer...) Yakov Smirnoff.

Smirnoff (24/01/1951), para dados comparativos chulos e praticamente incomparáveis, foi para a União Soviética o que Chico Buarque foi para a nossa ditadura, fazendo-se valer de que o primeiro é comediante e o segundo dispensa apresentações. A diferença entre os dois é que o Chico falou mal para depois fugir do país enquanto o Smirnoff fugiu para depois falar mal. Se Dado Dolabella falasse algo sobre Yakov, apesar de sabermos que ninguém saberia por onde começar (agora me senti em um daqueles diálogos "Eu sei que você sabe que eu sei que você sabia, mas deixa pra lá), ele falaria mais ou menos “Você traiu o movimento comunista, cara”.

O comediante trocou seu país pela América, a terra da oportunidade, em 1977. Se tornou cidadão estadunidense em 4 de julho de 1986. Que grande puxa-saco... O pior de tudo é saber que ele alcançou grande sucesso ridicularizando seus verdadeiros compatriotas. Yakov é especialmente conhecido pela “Reversal Russa”. Não é um movimento de acepções políticas anticomunistas. Na verdade é só uma piada. Críticas à URSS e o comunismo com uso do Orwellianismo (sim, aquele George Orwell que você está pensando. Orwell, não Foreman), equivalente à manipulação da linguagem para fins políticos.

Piadas do tipo “Nos Estados Unidos, você assiste televisão. Na União Soviética, a televisão assiste você!”. Esse tipo de piada sobre o Grande Irmão e tudo o que mais valha. Só que ele usava essa frase para qualquer coisa: “Nos Estados Unidos, você fuma tabaco. Na União Soviética, o tabaco fuma você!”. A febre da Reversal Russa abriu espaço para que Smirnoff encabeçasse o seriado “What a Country”, onde se faz passar por um motorista de táxi russo que estuda para tentar ser aprovado no teste de cidadania americano.

Ele pode ter se tornado alguém célebre por criticar a única defesa do homem contra o imperialismo. Ganhou citações em Simpsons, Family Guy e King of the Hill (todos desenhos norte-americanos que tiram sarro do american-way-of-life, mas que ainda exaltam a política capitalista, como seria de praxe).

Porém, no natal de 1991, sua grande fonte de sucesso se esgotou, e por ironia da história, do destino, ou do que diabos você quiser chamar, em 2006 Yakov Smirnoff foi eleito o quarto pior comediante de todos os tempos. Hoje ele é professor da Missouri State University.

Com gente assim pra ensinar americano, um dia eles caem...

Tomara.

Para saber mais sobre a Reversal Russa, clique aqui.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Você já foi à Cesário Lange? (ou Retrospectiva 06)

Me desculpem os cesáriolangenses leitores do E.E. Este relato em nada se relaciona à essa cidade, exceto talvez pelo fato de eu ter lido este nome em uma placa de estrada. Li muitas placas, aliás, pois foi uma viagem de 8 horas até o destino. Portanto, sintam-se honrados por eu ter citado justo este nome.

A tal "Retrospectiva 06"que dá nome ao texto foi uma idéia que tive de reavaliar o ano enquanto estava no ônibus. Entretanto o apanhado não é sobre política, apesar de através dela eu ter ganhado um engradado de cerveja, tampouco é sobre futebol, mesmo que meu time tenha me deixado orgulhoso com o 4-3-3, muito menos sobre acontecimentos históricos, devido à minha abrangente concepção sobre o que realmente vêm a ser "histórico" de fato. O único retrospecto que há neste texto é, na verdade, uma avaliação sobre o MEU 06.

Diz um amigo meu que um blog não tem pretensões, e sim textos. Eu, em parte, discordo, pois escrevo imaginando que alguém leia. Para os que pretendem enxergar o meu lado da história, aí vai:

2006, assim como qualquer ano, foi uma época de aprendizado, que se revelou para mim na forma das idas e vindas. Vieram mais sucessos do que fracassos (que também foram muitos) e foram embora empenho, sangue, tempo e, por que não, dinheiro para transformar meus ideais em coisas mais palpáveis (Ficou também a ligeira impressão de que enquanto o empenho e o sangue voltarão, o tempo e o dinheiro deram o adeus definitivo).

Enfim, voltando à viagem. Passei a semana prévia ao natal em Londrina. Fui por um motivo qualquer e fiquei hospedado em uma república (Londrina é uma cidade universitária onde está a UEL). Conheci gente nova, e tão rápido quanto conheci, me despedi dessas pessoas. Mas em suma, isso me fez refletir sobre amizade e outras coisas.

Este ano aprendi algo sobre o que é certo e o que é errado, e em que realmente devemos acreditar.
Fazer do mundo algo pequeno, que só caiba na nossa cabeça, e pensar que para cada nova etapa da vida há uma barreira, seja ela intelectual, cultural, habitual ou lingüística, isso é algo errado.
Decidir seguir seus objetivos sem se importar com o que você deixa para trás, mas também sem menosprezar o que você construiu, isso é algo certo.
Pensar que, mesmo que hajam despedidas, em nossos novos desafios virão novas amizades, novas barreiras que devem ser derrubadas e novos vínculos que construiremos, isso é algo em que devemos acreditar.

Se você não entendeu o que eu quis dizer e acha que:
  1. Assim como eu, acredita que em 2006 houveram mais desencontros do que encontros nossos, ouça Beautiful Life - Francis Dunnery
  2. Passou por momentos em que estava triste quando na verdade devia estar feliz, ouça Uncle Albert/Admiral Halsey - The Wings
  3. A vida não deve ser levada tão a sério, leia a saga do Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adam
  4. Vai voltar pra sampa depois das férias, ouça Highway to Hell - AC/DC
  5. Não vai conseguir se divertir com o banal em 2007, leia O Melhor Livro sobre Nada - Jerry Seinfeld
  6. 07 será um ano igual a 06, ouça Some Might Say - Oasis
  7. Não está pronto para mudar, ouça Um Pequeno Imprevisto - Os Paralamas do Sucesso
  8. Está um pouco deslocada(o), ouça Life of Illusion - Foo Fighters
  9. Se sentir melhor que alguém te ajuda, leia os quadrinhos do Charlie Brown.
  10. Antes de virar o ano, ouça Vamos Passar a Noite de Galera - Bidê ou Balde
Lembre-se: Viver exige um esforço muito maior do que somente respirar.

Segue uma dedicatória ao Mestre, ao Irmão, ao Turco, Gui, Henry, Jatobá, Lambari, aos amigos e amigas, e qualquer pessoa que tenha em algum momento de 2006 cruzado meu caminho, mesmo que seguissemos direções opostas.

Obrigado. Feliz 2007. Até ano que vem.